Não estuda e vai bem?

Não estuda e vai bem?

Seu filho tem facilidade na escola e, mesmo com pouco estudo, consegue se sair bem nas provas? O boletim com notas boas é sinal de que ele está preparado para as demandas escolares nos próximos anos?

Muitos alunos, principalmente nos primeiros anos escolares, conseguem boas notas sem esforço. Prestando um pouco de atenção na aula e estudando às vésperas da prova, acompanham o conteúdo o suficiente para se saírem bem. São reconhecidos por sua inteligência e incentivados pelos pais, que têm certeza que seus filhos sempre vão tirar de letra os estudos. 

O problema é que as notas no boletim refletem somente uma parte do desempenho. Muitas escolas dão peso maior para provas, então aqueles que tiram boas notas são reconhecidos como bons alunos e vão passando de ano, sem desenvolver repertório de estudo.

Esse perfil de aluno geralmente é popular e é visto pelos amigos como alguém mais esperto, descolado. Muito inteligente, mas sem o estigma de nerd. 

Alguém que é muito elogiado por ser inteligente (e não por ser esforçado) tende a entender essa característica como imutável, acreditando que o bom desempenho é resultado de sua inteligência e não de seu esforço.

Mas chega um momento na carreira escolar em que a estratégia de mínimo esforço deixa de ser suficiente e este aluno não consegue mais acompanhar a matéria e tirar boas notas. O pensamento “sou inteligente e tiro boas notas” logo é revertido para “se tiro notas ruins, é porque sou burro“. Essa frustração desencadeia emoções negativas, baixa autoestima e a sensação de impostor: “não sou quem pensavam que eu era”.

É muito comum que esse momento de transição para um mau desempenho acabe sendo um choque, uma vez que esses déficits de aprendizagem passaram despercebidos, mascarados pelas boas notas. Nesse momento, os pais começam a questionar o porquê da “mudança repentina” do filho, que anda inseguro, retraído, desistindo facilmente, com vergonha pelo desempenho ruim etc. Muitas vezes, a família acaba buscando suporte emocional, encarando os sinais como depressão, sem entender o contexto do problema. 

O aluno não criou repertório de estudos, não aprendeu sobre persistência, não destinou tempo para fazer o que não é divertido. As matérias em sala de aula deixaram de vir tão mastigadas, exigindo autonomia, disciplina e proatividade. Os desafios ficaram distantes demais de sua capacidade, e ele perdeu totalmente a motivação e a segurança.

O foco exclusivamente no resultado e não no comportamento gera a ilusão de que o resultado é fruto de inteligência e não de esforço. 

Se mudamos o olhar para o comportamento que gerou o resultado, valorizando o processo, estimulamos o aluno para que continue se esforçando mesmo se não tiver as melhores notas. Ele sabe o caminho. Ele será reconhecido por continuar tentando e mantendo bons hábitos de estudo, não pela nota final, então não se desestimulará se algo não sair como o esperado. Terá mais chances de manter a confiança em sua capacidade e a persistência no estudo.  

Um dos principais estudos sobre essa relação da desvantagem de focar em elogios de inteligência você pode ler, em inglês, clicando aqui.

Por isso, lembre-se de nunca pautar a avaliação de desempenho de seu filho somente pelas notas. Esteja atento aos comportamentos, aos hábitos de estudo, ao interesse nos assuntos escolares e à persistência frente aos desafios. 

Encoraje-o a tentar, a se dedicar, a ter rotina. Valorize o esforço como conquista e não somente os resultados. Sem dúvidas, essas habilidades serão fundamentais não só para os estudos como também para sua vida adulta. 

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